Tem gente que só reclama, né? E às vezes a pessoa que só reclama é… adivinha quem? Nós mesmos! Eu resolvi falar sobre isso porque a gente precisa identificar e se preparar para deixar de ser a pessoa que só tem queixas.
Quando a gente vai atender uma pessoa no consultório, nós, psicólogos, entendemos que o que levou essa pessoa a buscar a terapia é uma “queixa” – ou mais de uma – ou também chamamos de “demanda”. O termo técnico não importa muito aqui, o que eu quero que você entenda é que alguma coisa levou a pessoa a buscar o atendimento, certo?
Por causa da minha profissão, eu tenho muito contato com as “demandas” das pessoas. E, para além da minha profissão, eu tenho meus relacionamentos pessoais com meus familiares e amigos, o que você também deve ter e por isso talvez entenda bem sobre o que eu vou falar por aqui. Você já notou que existem pessoas “carregadas”? Tem gente que fala que Fulano é “pesado”, “carregado”, “baixo astral”. O termo aí pode variar bastante também!
Se você não conhece alguém que seja assim, talvez você seja essa pessoa. E hoje eu estou aqui para conversar exatamente sobre esse tipo de pessoas para pensarmos juntos sobre como ajudá-las.
Essas pessoas têm queixas, demandas, questões e para terem essa característica popularmente conhecida como “carregada” ou “baixo astral”, elas se relacionam com as questões delas de um jeito intenso e repetitivo.
Sabe aquela pessoa que você pergunta sobre como ela está e de repente ela começa a reclamar – e esse é um comportamento típico dessa pessoa? Ou quando você traz algumas sugestões do que você acha que poderia ajudar a melhorar o contexto dela e o esforço da pessoa é invalidar todas as coisas que você falou? Ou quando ela repete sobre o quanto as coisas poderiam ser melhores se coisas impossíveis acontecessem? Pois é.
Queria lembrar a todo mundo nesse momento que eu NÃO estou aqui com intenção de “falar mal ou depreciar” as pessoas que são assim. Eu quero provocar uma reflexão para quem é carregado e até para quem não é:
“Quem é você para além da sua queixa?”. Ou seja, quem é você para além das suas reclamações, dos seus desconfortos, dos seus incômodos?
Imagine um dia da sua vida em que você não teria nada para se queixar. Em que as coisas que você reclama normalmente estão todas funcionando bem e naquele dia especial não são motivo de incômodo. Imaginou? Beleza, então continua aqui comigo.
Quantos por cento de vida, de afazeres, de ocupação, te sobrou se a gente pega esse dia e remove todas as coisas ruins, o azedume, a reclamação, a queixa? Pensa de novo. Se a gente tira o azedo, quanto de doce sobra na sua vida?
Bom, espero que você tenha ficado com isso na cabeça e que já tenha pelo menos começado a pensar em uma resposta para essas perguntas que eu lancei. Eu quero fazer um aviso aqui: se a sua vida está cinza ou azeda, repleta de queixas e de mal-estar, pense direitinho sobre procurar uma psicóloga ou um psicólogo, ok?
Preciso ser cuidadosa com isso porque eu sei bem – por trabalhar com isso todos os dias e estudar exatamente essa área do conhecimento, que é a psicologia – que uma pessoa ter uma vida difícil, conflituosa, é algo que se forma e se mantém por uma multiplicidade de fatores e não podemos tratar isso de uma forma simplista só com um texto, ok? Seja responsável com o seu autocuidado para nós podermos continuar conversando de uma forma mais leve por aqui, porque infelizmente em um texto eu não consigo colocar a profundidade que a gente precisaria ter sobre esse assunto. O que eu quero – e posso! – fazer aqui é levantar reflexões, inclusive que você pode levar para a sua terapia!
Beleza, agora que dei meu aviso, vamos voltar. Eu te perguntei quanto sobra de doce na sua vida se a gente tira o azedo. Se você chegou à conclusão de que sobra muita coisa, MARAVILHOSO! É assim mesmo que uma vida saudável funciona. É como se fosse uma estrada composta por retas, curvas, quebra-molas e buracos de vez em quando. A vida saudável tem uma predominância de estabilidade, permeada por momentos muito bons e momentos muito ruins também e uma variabilidade de intensidade entre momentos bons e ruins.
Se sobra meio doce quando você tira o “meio azedo” que sua vida é, a gente já tem um sinal de alerta. Agora, se não sobra quase nada de doce quando tira o azedo, é preocupante. A primeira dica é você se manter em terapia ou procurar por uma se ainda não faz. Outras dicas que você já pode colocar em prática é pensar em algumas coisas:
– como você pode adaptar sua vida para melhorar as coisas que estão te incomodando?
– como você pode aprimorar a sua comunicação com as pessoas para, sim, falar das coisas ruins e receber acolhimento, mas para não transformar isso em um foco único? Como você poderia diversificar os seus assuntos e melhorar os seus relacionamentos?
– como você pode investir nos seus interesses, naquilo que poderia te fazer bem?
– como você pode calibrar as suas expectativas e cobranças sobre você mesmo para ser seu próprio parceiro, em vez de ficar parecendo que você está o tempo todo torcendo contra seu próprio sucesso?
Eu gostaria de destacar aqui uma palavra que eu gosto muito e uso o tempo todo: ADAPTAÇÃO. Perceba se você não está olhando para a sua vida com uma rigidez que está travando seus movimentos. Faça esforços para adaptar o que puder e se direcionar a uma vida que vai além das suas queixas!
Se você pensou em coisas importantes a partir da nossa discussão aqui ou se acha que esse texto pode ajudar alguém que você conhece, curta, faça seus comentários, manda esse para alguém!
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