A melhor companhia que tenho é a minha

A melhor companhia que tenho é a minha

Hoje eu resolvi falar sobre gostar da própria companhia porque eu vejo muitas vezes o incômodo das pessoas ao se perceberem sozinhas. É um tema campeão de sessões de atendimento no consultório. Ao passarem um sábado à noite em casa ou ao não terem com quem almoçar, por exemplo, as pessoas se sentem muito incomodadas.

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Já estive nesse grupo de inquietos pela solidão quando era mais nova, mas com o passar do tempo eu aprendi a apreciar a minha própria companhia e descobri que isso é a melhor coisa que podemos fazer. Liberdade é uma das coisas que eu mais valorizo na vida e eu só me vi livre da forma que gosto a partir do momento em que senti que não dependia de mais ninguém para ser feliz.

O primeiro ponto que queria falar dentro desse tema com você é o “desespero para achar companhia”. Quando você se desespera para achar uma companhia, potencialmente conseguirá uma ruim. Alguém que não se encaixa bem com o que você precisa ou quer de verdade. Porque o que está em jogo nesse caso não é a qualidade da companhia, mas ter uma. Quem quer que seja. Quem aparecer primeiro ou quem topar. Qualquer uma serve, desde que seja uma companhia.

Por isso eu defendo que a gente precisa trocar os artigos aí: em vez de se ter UMA companhia, você ter A companhia. Alguém que realmente tenha a ver com você, com seus gostos, com o jeito que você gosta de usar seu tempo, com o tipo de assunto que você gosta de conversar… E para ter essa paciência de buscar A companhia, você precisa primeiro estar bem com você. Depois o próximo passo é saber o que você quer. E por fim, buscar isso que você quer e ser paciente na jornada.

Para mim, o ditado “antes só do que mal acompanhado” é uma das máximas que carrego na minha vida. É um conhecimento simples, rápido de lembrar, mas que tem um significado na verdade bastante profundo. O filósofo Nietzsche falou uma coisa que complementa essa mesma ideia:

“Não me roube a solidão sem antes oferecer a verdadeira companhia”.

Nietzsche

A interpretação pessoal que dei para essa frase é quase como uma filosofia de vida para mim: estarei na companhia de alguém se isso for, de alguma forma e qualquer que seja ela, interessante. Não estou sendo utilitarista nem interesseira. O que eu quero dizer com interessante para mim é que: faz sentido estar com alguém se isso nos possibilitar algum tipo de troca. Quero estar com alguém quando isso for divertido, quando pudermos nos ajudar, quando tivermos conversas instigantes e por aí vai. Não sendo assim, desculpe, eu prefiro estar na minha própria companhia. É a troca do termo solidão, que vem com aquela carga pesada, pelo termo solitude, que chega com um tom leve e gostoso.

Eu acho uma delícia poder decidir o que vou fazer com o meu próprio tempo! Se vou pesquisar alguma coisa, assistir a um seriado ou a um filme em casa, ir ao cinema, ler um livro, resolver algo na rua ou até mesmo viajar sozinha, que foi uma experiência que já tive algumas vezes e nelas aprendi muita coisa. Quando se chega a essa descoberta de que você é a melhor companhia que poderia ter, um novo mundo de liberdade se abre à sua frente.

Isso não quer dizer que eu não goste de pessoas, viu? Implica na verdade que meus contatos sociais são ainda mais significativos. Eu não estou com as pessoas por estar desesperada, porque preciso delas. Estou com as pessoas porque isso é bom e quando é bom.

Quando estamos bem conosco, tudo funciona melhor. Especialmente a relação com outras pessoas. Você deixa de fazer por obrigação e passa a fazer por vontade. Não consigo imaginar nada mais livre e que traga mais leveza do que isso e sugiro de verdade que você experimente essa sensação.

Sei que não é automático isso de gostar da nossa própria companhia, mas um jeito de fazê-lo é exercendo a autocompaixão: aceitar, acolher quem você é, suas vontades, reconhecer as próprias potencialidades e limitações. Inclusive sobre esse assunto eu indico um livro que gostei muito, que é o Autocompaixão, da Kristin Neff, que é uma grande pesquisadora sobre esse tema. Pense o seguinte: ninguém fica bem na presença de alguém que não gosta, certo? Se você não gostar de você mesmo, ferrou!

O que eu gosto de falar para as pessoas que atendo é o seguinte: tire tempos na sua agenda para fazer o que der vontade. Sem cobrança. Sem querer se sentir “produtivo”. Crie espaços para você conseguir se relacionar com você mesmo de um jeito divertido. Comece a estabelecer uma relação de melhor amigo consigo, pense inclusive no que você falaria para pessoas que gosta muito em momentos que elas estão com alguma dificuldade e tente começar a falar essas coisas para você mesmo nos seus momentos de dificuldade. Seja menos duro com você!

Essas ações com certeza vão te ajudar a pavimentar um caminho de uma relação melhor com você mesmo para que, pouco a pouco, você se torne a sua melhor companhia também!

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