Quando eu era adolescente e estava na escola, minha mãe era MUITO brava! E eu ainda tive o azar de ser a filha mais velha. Primogênitos sempre são os desbravadores da descoberta da maternidade e paternidade de seus progenitores. Os pais ainda estão testando, conhecendo os seus limites e sua forma de educar os filhos. Para o meu irmão foi muito mais fácil, não só por ser o segundo filho, mas também por ser menino – mas não vou entrar nesse mérito hoje, que o tema é outro!
Acontece que eu fui crescendo, me tornei responsável por mim mesma, pago meus boletos todos, moro em outra cidade e a relação com a minha mãe mudou completamente e melhorou demais. Atualmente somos parceiras pra tudo! Hoje eu não tenho mais medo da inspiradora da comunidade de Orkut (Eu tenho medo da mãe da Débora) que meus amigos fizeram na época da escola. Na verdade, hoje a gente ri disso juntas! (Pensando aqui que se a minha mãe ler esse texto, ela vai ficar muito brava! Mas como disse, não tenho medo mais.).
Fiz esse resgate da minha própria história de vida para contar pra vocês que ainda há resquícios de uma certa censura da minha mãe sobre a minha expressão de pensamentos, sempre preocupada comigo. Quem me conhece e é meu amigo no Facebook talvez tenha tido a chance de observar. Em qualquer postagem em que eu fale algum palavrão – qualquer que seja ele – minha mãe repreende nos comentários. Acontece que eu gosto de falar palavrões, e não vou parar nos ambientes em que me sinto à vontade e acho adequado fazê-lo, porque só quem fala palavrões sabe que algumas frases só fazem sentido com a presença deles. Acaba funcionando muitas vezes como um advérbio de intensidade. Só quem já “estudou pra caralho” na vida sabe que dizer que “estudou demais” não chega nem perto do que você está querendo dizer. Divagações à parte, vamos voltar para o tema!
Eu aposto que minha mãe pensa sobre “o que os outros vão pensar?” ou “falar assim vai estragar a sua imagem!”, mais uma vez, porque está preocupada comigo. E não é só quando falo palavrões. Geralmente o mesmo tipo de intervenção ocorre quando eu falo sobre algum assunto polêmico, como o fato de não querer ter filhos, por exemplo. Eu realmente não concordo que deva guardar minhas opiniões pra mim mesma só porque a grande massa pensa contrariamente ao que eu defendo/acredito. Isso me faz refletir sobre o quanto as pessoas, calcadas em uma vida cheia de aparências, não estão preparadas para a sinceridade disponível nesse mundão. Não sei se já aconteceu com vocês, mas as pessoas agem de uma forma meio surpresa, meio ofendida, quando você expressa uma opinião contrária à delas.
Exemplo disso foi no dia das mães nesse ano de 2016. Eu fui até a casa da minha sogra com o meu marido. Uma tia dele estava por lá, me abraçou e me deu parabéns, dizendo “parabéns pra você que um dia vai ser mãe também!”. De coração: eu me senti mais invadida por esse comentário do que por ter que entregar potinhos com cocô pra fazer exames de fezes – que eu odeio! Pelo menos no caso dos exames era algo sobre a minha saúde e eu mesma topei fazer, já que não tinha outro jeito. O que me deixa mais absurdada nessa situação toda é que o fato de eu ter respondido que não queria ter filhos e que, na realidade, já os tinha – porque considero meus dois cachorros como filhinhos – me fez aos olhos dos outros como a pessoa errada da situação, a sem-educação, e não a mulher que foi extremamente invasiva e sem noção colocando sobre mim expectativas dela ou da sociedade. E por quê? Só porque o que eu escolhi é contra a corrente, é contrário ao que as aparências propõem e exigem, afinal, como uma mulher recém-casada tudo que eu devo estar querendo agora é dar um jeito de colocar rebentos no mundo, especialmente porque tem um monte de gente que não irá criá-los – o ônus é todo meu e do Marcos – querendo que isso aconteça. AH VÁ! O pior de tudo, o que me deixa mais puta com isso, é que eu nunca fiz e nem farei campanhas de “você não deve ter filhos”. É apenas uma escolha pessoal, por que diabos eu devo alguma satisfação disso aos outros?
A grande questão é que não importa quais sejam as aparências e, em conseguinte, o que os outros irão pensar ou esperar de mim. Existe uma série de regras sociais sobre diversos temas que a média da população, por preguiça ou por falta de crítica, resolve seguir. Ou porque querem, isso também existe. Não estou dizendo que eu sou a quebradora de regras e estou livre disso tudo aí, mas é muito importante dentro de como eu levo minha vida questioná-las e identificar quais delas vão ser interessantes de seguir no meu contexto e quais não se aplicam ao estilo de vida que escolhi. Comprar apartamento, ter filhos, ter um carro, bater ponto, ganhar burros de dinheiro, frequentar reuniões de família com parentes que você nem gosta – essa está chegando em seu ponto máximo com o Natal logo aí –, viajar só vale se for pra Europa. Por quê?
Eu não sinto vergonha por não ser o que determinado tipo de pessoa gostaria que eu fosse. Em consequência, eu não sinto vergonha por falar coisas e esse tipo de pessoa “pensar mal de mim” ou me julgar por causa das opiniões que expressei. Especialmente se essas opiniões se referem a como resolvi conduzir a minha própria vida. Por isso eu acabo sempre fazendo o que vai me deixar bem e feliz.
Compartilhei tudo isso com vocês e abri um pouquinho da minha vida pra mostrar que buscar ser uma pessoa de verdade, isto é, ser fiel ao que você acredita, valoriza, respeita, dissemina, ama e tudo mais, não deveria te assustar pelo receio de você perder o apoio e a admiração de quem pode te criticar por conta dessas coisas. Buscar ser uma pessoa de verdade vai fazer com que quem estiver ao seu lado sejam pessoas que você terá a certeza de que gostam de você exatamente como é, não sendo necessário que você faça nada mais além de ser sempre a sua própria versão preferida de si mesmo. Obviamente, temos versões diferentes que apresentamos de nós mesmos em cada contexto que habitamos. É claro que a Débora psicóloga, a Débora palestrante, a Débora em uma mesa de bar, a Débora em um café, a Débora em família, a Débora em meio aos amigos mais íntimos apresenta variações. Assim como tenho certeza que isso também acontece com vocês. O que estou reforçando como importante neste texto é que essas variações não te façam perder a essência de você mesmo e não te estiquem a ponto de você achar que irá se romper. Moldar-se aos olhos dos outros só faz com que você perca a própria forma. Vale tanto a pena assim tentar agradar?
A maior prisão que as pessoas vivem é o medo do que as outras pessoas pensam – David Icke.
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Nunca me identifiquei tanto em um texto! Sou o tipo de pessoa que gosta de dar minha opinião nos assuntos e sempre arranjo problemas por conta do que digo. Isso me incomoda demais porque eu não gosto de ser julgada e que pensem mal de mim. Não consigo mudar (gosto de ser assim e queria que fosse mais fácil ser aceita), mas tenho problemas em lidar com isso. Acabo sofrendo muito de culpa e ao mesmo tempo sinto raiva dessa culpa pq gosto de ser assim sincera, e transparente. Constantemente meu marido fala que nem tudo o que eu penso eu devo falar e que as vezes se eu guardasse minhas opiniões para mim eu sofria menos. Acho tão injusto! Gosto de falar, quero falar, mas odeio saber que me criticam. Como lidar com isso?