Quando vi essa diferenciação no Kinder Ovo entre meninas e meninos, fiquei chocada. A sensação foi a de que eu fiz uma viagem no tempo forçada, indesejada, rumo à década de 1950. É como se eu tivesse entrado, contra minha vontade, na Retro-Machine da qual Aline Valek falou (aqui).
Essa dicotomia entre o que é para meninas e o que é para meninos me incomoda muito. Os efeitos de uma sociedade machista fazem com que diariamente mulheres sejam estupradas e assassinadas. Nós geralmente ganhamos menos do que os homens para exercer a mesma função, ocupamos uma porcentagem bem menor de cargos de alta gerência e direção, temos jornada dupla (até tripla!), somos colocadas como seres subservientes, desvalorizadas pela nossa capacidade de pensar e valorizadas pelo corpo (isso se o corpo atinge o ideal de beleza). Ou melhor, temos o corpo valorizado, não a nossa pessoa. Apenas para efeito de contextualização, veja abaixo quadro da Fundação Perseu Abramo (2001) [referência completa ao final da matéria] sobre algumas formas de violência contra a mulher no Brasil (esses dados são bastante difíceis de serem coletados, já que muitas mulheres não fazem denúncias porque têm medo, moram com o agressor, não sabem o que fazer da vida, temem pelos filhos, etc.):